quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Memorial

Por ser a última filha de uma família grande, unida e que acima de tudo fazia valer a expectativa de um futuro promissor para todos, cresci deslumbrada com a escola, pois ouvia diariamente em casa que “só se seria alguém na vida se estudasse”. Devo ao meu irmão mais velho meu primeiro contato com a leitura, no qual despertou em mim o desejo de descobrir o mundo das letras. Lembro-me de que quando viajava mandava-me postais da cidade, cartas e cartões de aniversário. Eu ficava maravilhada com aquela forma tão carinhosa e única de dizer que me amava e lembrava sempre de mim. E quando chegava me presenteava com livros surpreendentes que, na maioria das vezes, eram lidos por minhas irmãs. Aqueles postais conseguiam suprir a saudade e aumentar ainda mais o amor que por meu irmão sentia. E quando chegava de uma de suas viagens, corria ao seu encontro e pegava sua pasta preta, que com certeza, de lá saia mais um maravilhoso livro. Recordo também, que eu utilizava os cadernos velhos de minhas irmãs e passava caneta de cor verde por cima das letras, adorava imaginar que estava estudando. Aos seis anos de idade, ingressei na escola classe 05 de Planaltina-DF, no jardim de infância, lá cursei até a 2ª série, pois tínhamos que mudar. Minha primeira professora, tia Ione, era uma professora muito carinhosa e dedicada aos seus alunos, mas nunca vou esquecer-me do dia em que ela perguntou se alguém tinha algum livro para levar no dia seguinte para a escola e eu toda metida, logo levei um dos meus presentes dado por meu irmão, “A centopéia e seus sapatinhos”, um livro lindo que a princípio eu apenas folheava e queria que a tia Ione lesse para todos e dissesse o porquê de tantos sapatinhos... Em seguida, minha mãe matriculou-me em uma escola próxima da nova casa, escola classe 06, neste momento, lembro-me que foi muito difícil a fase de adaptação, mas logo completei 11 anos e fui para outra escola, CEF01, cursar a 5ª a 8ª série do 1ª grau, ai então, tudo mudou, senti-me diferente, estava na adolescência. Vários amigos, muitos professores, escola nova, ufa! Grandes emoções!!! Neste momento, comecei a ler aqueles livros que a professora trazia para sala e tínhamos que escolher um e eu sempre escolhia os que estavam mais de acordo com o momento. Li vários livros da coleção vaga-lume e adorei ler Pollyanna moça, Meu primeiro beijo, pois eram os que mais me interessavam. Um pouco mais a frente, quando já estava cursando a 8ª série, a professora de Língua Portuguesa, professora Dione, mensalmente organizava um circuito de leitura trazendo de várias maneiras os livros de literatura. E, uma das maneiras que a professora utilizava para nos envolver ainda mais com a leitura era escolher um cantinho especial na biblioteca. Todas às vezes, tinha um tapete limpinho e almofadas aconchegantes, deixando-me a vontade para sonhar e viajar em leituras inebriantes. Um livro que marcou essa fase foi “Capitães de Areia” que conduziu-me em um mundo cheio de aventuras e emoções. A minha formação como leitora está muito ligada a escola, pois tive professores que eram brilhantes e incentivavam-me a querer buscar sempre possibilidades de aprendizagem. E para ser mais exata, foi no curso de magistério do ensino médio que a leitura tornou-se essencial para se explorar e adquirir maiores conhecimentos. Acredito que estava começando a entender o real motivo da leitura. Tive o privilegio de ter sido aluna do mestre Sérgio Fayad que ao ler literatura brasileira fazia-me arrepiar com seu poder de ler e transformar sua fala em algo tocante e incentivador. Com seu jeito humorado e sarcástico de ensinar Língua Portuguesa e Literatura despertou-me o anseio de seguir o dom de ser educadora. Quando li “Vidas Secas” de Graciliano Ramos senti-me mergulhando em um mundo desconhecido de palavras e que me proporcionavam uma buscar para o entendimento daquela leitura. Nesta época, me deparei com o conflito de por que e para quê estudar física, pois não entendia tantos cálculos e tantas fórmulas e só hoje, percebo a importância da física em minha vida, somente pelo fato de ter de dividir um espaço de trabalho, somar valores e multiplicar conhecimentos. Daí, então, o motivo de tantos cálculos, choros e alegria em alcançar uma nota razoável naquela matéria. Descontente com o muito que pensei ter adquirido com o ensino médio, percebi que para obter e partilhar conhecimentos não existia limites. Ingressei na graduação, no curso de Letras e notei pouca mudança no processo de ensino-aprendizagem, senti-me sozinha, em um mundo muito individual. Os professores não se empenhavam o bastante para realizar aulas diferentes, criativas, mas tive momentos muito agradáveis com mestres de literatura brasileira e Língua Espanhola em que propuseram-me leituras magníficas como “Venha ver o por do Sol”, conto de Clarice Lispector. Comecei a pensar na necessidade da leitura e do estudo e, a partir dessa reflexão, esses dois processos tornaram-se essenciais em minha vida para que, em sala de aula, ser sempre uma professora inovadora para melhorar, aprender e fazer a diferença na Educação.

3 comentários:

Pat Vieira disse...

Linda e envolvente história, adorei!

Patrícia Vieira

Dioney disse...

Valquíria,
Seu texto mostra a importância da família, do contato com a leitura em sua essência: a representação dos valores humanos em letrinhas...
Parabéns!
Um grande abraço.
Prof. Dioney

Marilu de Jesus disse...

Val, que beleza de memorial!Continue assim: esforçada, emplogada e determinada. Parabéns pelo seu crescimento. Que Jesus te abençoe. Beijos!